Desde a Criação, o homem busca vencer sua condição natural e acredita em promessas miraculosas, haja visto sua desobediência ao comer o fruto proibido, querendo ser o conhecedor do bem e do mal (Gen. 3, 1-7). E desde então, existe a guerra do poder, onde cada um ou cada segmento defende suas crenças e se impõe com a autoridade que julga ter. Assim, em toda estória da humanidade, a pessoa com deficiência já foi julgada e condenada a não existir: de qualquer maneira e a qualquer custo, sempre se buscou eliminar a pessoa com deficiência; seja efetivamente através de infanticídio – morte do recém nascido com deficiência física – (fato este que ocorre ainda hoje em alguns povoados, principalmente em tribos primitivas); seja através da interrupção do feto quando se sabe que pode vir a nascer com alguma anomalia; seja nos programas de controle de natalidade, quando se dá “atenção especial” a fatores de risco, impedindo a qualquer preço a possibilidade de uma gravidez, cujo resultado seja a possibilidade de ocasionar uma criança com deficiência.
Enfim, sempre se está determinando que a sociedade deva impedir que os fracos sobrevivam em favor dos fortes, dos que podem mais... Ao mesmo tempo, a humanidade vai tomando consciência, e vamos conhecendo novos pensamentos e obtendo atitudes melhoradas a este respeito: temos leis, programas, e projetos que defendem os direitos da Pessoa com deficiência, da mesma maneira que outros segmentos de excluídos que vão tendo mais visibilidade: como os dependentes químicos, os desempregados, os negros, índios, menores abandonados, idosos, enfim, tudo o que é minoria ou que não são produtivos sob os valores dos que detém o poder.
Assim, o CODIPEDE – Conselho Diocesano da Pessoa com Deficiência – vem somar àqueles que defendem a Vida e que acreditam na Criação como Deus criou; onde o homem foi criado à Sua Imagem e Semelhança (Gen. 1, 26).
Queremos defender o direito à Vida, mas Vida Plena e com Dignidade, encontrando a livre expressão de nossos valores pessoais, sociais e comunitários...
São poucos e pequenos os passos, mas que tenhamos como missão: que na Igreja, como em qualquer lugar, a Pessoa com Deficiência seja acolhida e reconhecida como Ser Único e Completo, seja qual for sua condição física, emocional, mental ou social.
Então, assim como o tema que hoje debatemos: Pela Vida grita a Terra... Por direitos todos nós; o segmento da Pessoa com deficiência quer ser Igreja reconhecida como com atitudes e atuação clara dos direitos que lhe conferem: acessibilidade, comunicação, acolhimento e aceitação. Queremos e podemos evangelizar como toda e qualquer pessoa, porém precisamos ter como ir e vir (direito natural – garantido pela constituição brasileira), e para isso precisamos transporte eficiente e eficaz; comunicação específica que leve em consideração as limitações e também as habilidades de cada pessoa, pois se entendermos que os surdos, por exemplo, tem a limitação de ouvir e conseqüentemente de falar com naturalidade, eles desenvolvem com grande perfeição a condição de se comunicar com sinais (linguagem de libras); se os deficientes visuais não podem ver, desenvolvem a brilhante capacidade de “enxergar com as mãos”, ressaltando uma habilidade em todos nós tão limitada: o uso do tato. Se os deficientes intelectuais não conseguem adquirir conhecimentos fazendo associações e assimilações, conseguem ensinar a arte de viverem com liberdade de pensamento e afeto, sem julgamentos...
Portanto, precisamos reconhecer que para vivermos os ensinamentos de Cristo, que nos Amou e Amor de morte que leva à Vida, precisamos ainda galgar muitos passos, e encarar que as deficiências são mera condições a de vida específica, mas plena em si; que precisamos desenvolver respeito e consideração a todos, e todos incluem os excluídos.
Precisamos conviver sem reservas, sem medos, sem constrangimentos. Assim, os que apresentam as limitações vão adquirindo cada vez mais, segurança e tranqüilidade para sentirem-se iguais – em Semelhança e Imagem de Deus – e os que não têm deficiências aparentes, possam reconhecer em si a consideração de tratar a todos com a mesma dignidade com que quer ser tratado.
Enfim, a Terra grita pela Vida, e nós por Direitos e se assim for, estaremos mais plenos para exercermos também nossas obrigações, pois não podemos esquecer que os direitos nos levam às obrigações.
Deveres e Direitos, de cidadão e de Cristão!
Por Angelita